Tenho tentado evitar drama.
Estamos em 2014 e certas coisas parecem ser as mesmas desde 1998. Serão sempre assim? Sempre vão achar que quando digo "sim, estamos em uma escola, estamos aqui pra estudar" em resposta a um "'fêssor, 'cê vai passar exercícios?" eu estou sendo irônico ou ríspido? Sempre mesmo? Eu não entendo... assim como não entendo que em uma certa faculdade particular as pessoas queiram que os professores terminem a aula DUAS horas antes do horário previsto. Quem é que quer pagar R$600,00 por mês e ter metade do serviço prestado?
Estamos em fevereiro e eu às vezes fico num canto só, pensando que talvez eu esteja cansado. Cansado, talvez, de ter que lidar com o óbvio. Ter que trabalhar o óbvio me desanima, me tira do sério, me faz ansiar por mais silêncio.
O silêncio tem sido um grande e raro companheiro.
Sabe uma coisa que tem me assustado e MUITO? O quanto as pessoas (nós) não ouvem às outras. Terça-feira à noite, na faculdade, havia uma grande concentração de pessoas em um pátio externo "ouvindo" a uma palestra de boas-vindas. O palestrante de microfone em punho, alto-falantes no máximo volume, e mal se conseguia ouvir o que ele falava. Parece que chegamos a um ponto (tenebroso) onde não importa se o que as pessoas falam é do nosso interesse, nos fará bem, trará aprendizado ou coisa parecida... não escutamos. E pior: conversamos por cima como se aquela pessoa não estivesse ali. Um desrespeito horroroso.
Lembro-me bem que deixei, há um tempo, de ir ao cinema com certas pessoas porque elas se viravam pra mim durante a sessão e comentavam o filme em voz alta como se estivessem na sala de suas casas enquanto assistem TV. Bronquear não adiantou. Parei de ir ao cinema com elas, então. Não porque me incomodavam muito, mas porque acho que atrapalham outras pessoas ao redor que pagaram pra ver o filme. Cinema/escola/faculdade não é boteco, não é boate. Ponto final. Vamos combinar que sala de aula - e meus alunos sabem disso, assim espero - tem lá seus momentos de "'bora conversar" mas que quando a pessoa que está lá na frente abre a boca, a gente fecha a nossa? É um respeito óbvio.
Andei conversando com algumas pessoas sobre isso e elas me dizem que é a nova classe C. Gente que teria dinheiro mas não teria "berço", não teria cultura. Resumindo: gente rica mal educada. Discordo. Eu me recuso a crer nisso. Respeito ao próximo, respeito a um palestrante, respeito ao professor, ao colega de sala (que quer ouvir o professor) independe de classe social.
Pra mim, tudo gira em torno de respeito e, no mínimo, consideração. Foi o respeito que eu tenho que me fez "perder" a folga que eu tinha ontem à tarde e dar um pulo nas escolas onde estavam sendo aplicadas minhas provas (onde tive condições de ir, pelo menos) e entrar de sala em sala pra saber se estava tudo ok com a primeira prova minha que faziam (em escolas onde não estou proibido de fazer isso). Eu podia sim ter ficado em casa, mas idiotamente preferi verificar se estava tudo bem. Ou tranquilizar quem eu pudesse. Valeu a pena? Não sei. Se uma ou duas pessoas perceberam e sabem que somos iguais, pra mim tá ótimo.
Está tudo muito torto e estranho. E eu me precipitando, talvez. Não tenho certeza de tanta coisa... e entendo que é difícil e demorado quebrar um esquema onde alunxs veem professor como inimigo. Achava que isso nem existia mais. Daí, lá vou eu perder tempo tendo que provar coisas que não sou. Dentre tantas que sequer seriam relevantes. Como eu digo sempre "quem se importa? A quem interessa?".
Hoje, terminando a aula às 12h30 de um sábado, um aluno se despediu dizendo "até mais, professor. Obrigado pela aula". Eu disse "eu que agradeço pela atenção". Confesso que me assustei. Tinha tempo que eu não ouvia algo assim. Estamos mais pra coisa "estou pagando, então foda-se"... e me lembrei que quando voltei a estudar em 2013 eu costumava agradecer aos meus professores da faculdade ao final de suas aulas. Ultimamente, ando achando que "só" prestar atenção calado já está de bom tamanho.
Segunda-feira volto a agradecer aos meus professores ao final de cada aula. O silêncio continua.
"Me deixa falar / me empresta o ouvido
Me deixa falar / me presta atenção"